Disciplina - Ensino Religioso

Ensino Religioso

19/08/2008

Mulheres sacerdotes, por que não?

No dia 16, o jornal espanhol El Pais publicou uma matéria sobre "um movimento subterrâneo que luta pela igualdade da mulher na Igreja Católica". Em maior número nas igrejas como leigas e religiosas, as mulheres  travam "surdamente" uma revolta feminista. Os conventos espanhóis se rebelam clandestinamente.
Teólogas católicas estão propondo inverter ou subverter a linguagem de gênero da liturgia, algo como "Em nome da Mãe, da Filha e da Espírito Santo. Deusa nossa, acolhe a nós, cristãs... Mãe nossa que estás no céu..."
Recentemente, o cardeal Carlo María Martini lançou o livro "Colóquios Noturnos em Jerusalém", em que fala a favor da ordenação de mulheres e de muitos outros assuntos considerados polêmicos, entre eles, o celibato opcional dos padres e a união homossexual. Martini é taxativo quando afirma: " A Igreja deve ter a coragem de reformar-se".
Cardeal Martini era um dos "papáveis" no último conclave que escolheu Joseph Ratzinger como o 265º Papa. Nos "corredores" eclesiais, conta-se uma história - boato ou fato - dos bastidores do último conclave. No primeiro dia de reunião para a escolha do novo papa, Ratzinger e Martini praticamente dividiram os votos dos cardeais. Martini foi ao plenário junto com Ratzinger, virou-se para a assembléia e falou algo assim: "Eu não estou bem de saúde (ele sofre de Mal de Parkinson) e com idade avançada, pra quem votou em mim, peço que votem no cardeal Ratzinger." E no segundo dia, saiu a fumacinha branca do Vaticano, confirmando a escolha.
Percebe-se então, o prestígio de Carlo María Martini e como suas posições tem respaldo e promovem a comunhão no Colégio de Cardeais.
Entretanto, o Vaticano não intenciona dialogar sobre a ordenação de mulheres. Com exceção do presidente da Conferência Episcopal alemã, o arcebispo Robert Zollitsch, as propostas de Martini não obtiveram resposta além do silêncio do Vaticano e das hierarquias nacionais.
O Magistério Eclesial afirma que a Igreja Católica não tem a faculdade de ordenar mulheres já que Jesus Cristo escolheu 12 homens. Mas é verdade que, a julgar por este critério, Jesus só escolheu 12 e não 8.000 homens, número aproximado de bispos que pertencem ao colégio episcopal. A Igreja Católica se reconhece vinculada à escolha de gênero (só homens), mas não se reconhece vinculada à escolha de número (apenas 12). Na questão de gênero é literal, na de número é simbólica - o Colégio Episcopal (8.000 homens) representa os "doze". Se formos pensar em etnia, Jesus também não escolheu nenhum negro.
Pelas óticas da Bíblia e da Teologia, não há uma fórmula dogmática que proíba o celibato opcional ou a ordenação da mulher. Teólogas e historiadoras - leigas e religiosas - se empenham em obter argumentos para demonstrar que a não-ordenação de mulheres ao sacerdócio não é uma verdade revelada, mas sim,  produto da interpretação masculina da história ao longo de séculos de marginalização social da mulher. Na Igreja Primitiva,  várias mulheres eram líderes, diaconisas e presbíteras.
A Igreja Anglicana aprovou recentemente  a ordenação de mulheres ao episcopado e o Vaticano emitiu uma nota lamentando a decisão.
Segundo El Pais, na intricada associação Redes Cristãs, que reúne cerca de 150 grupos sob o lema comum "Outra Igreja é possível", as feministas católicas mais irreverentes, que em 8 de março se manifestam ao grito de "Se já temos duas mamas, para que queremos um papa?", se encontram com outras que evitam atitudes desrespeitosas. Embora o temor das represálias esteja presente, particularmente nas freiras e professoras de religião, a principal razão é evitar se desligar de uma congregação educada na obediência cega à hierarquia. "Colocar-se à margem representaria deixar a Igreja nas mãos dos Legionários de Cristo", raciocina Pilar Yuste, 44 anos, catedrática de teologia e professora de religião. "Apesar de não querermos cismas, devemos nos rebelar contra as estruturas antidemocráticas da Igreja", indica Teresa Cortés. A mensagem é que a Igreja Católica perderá as mulheres, como já perdeu os intelectuais e os operários. Elas, que são as que amam a Deus em maior número, já não aceitam que o sexo masculino atribuído ao Supremo Criador sirva para perpetuar a servidão e a submissão secular da mulher. É que, a não ser que se insulte a condição feminina, não há resposta justificada possível para a pergunta: "Mulheres sacerdotes, por que não?"
Acessado em 19/08/2009 no sítio do SRZD. Todas as modificações posteriores são de responsabilidade do autor original da matéria.
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