Disciplina - Ensino Religioso

Ensino Religioso

20/08/2008

A cúpula da fé e da ciência

Claudia Ferraz*
Em 1528, o escritor italiano Baltasar Castiglione, observando a cúpula da Catedral de Florença fez o seguinte registro: "De Deus nasce a beleza,  é como um círculo cujo centro é a bondade; como não pode existir círculo sem centro não pode existir beleza sem bondade".
Na Florença de 108 anos antes dessa frase, um outro jovem arquiteto italiano pensou sobre o espaço arquitetônico e na melhor forma de construir uma imensa cúpula com 91 m de altura, diâmetro de 45,5 m, em forma dupla com 463 degraus no interior, um peso de aproximadamente 37000 toneladas e utilizando cerca de 4 milhões de tijolos tudo isso sem o uso de andaimes.  Fillipo Brunelleschi venceu o concurso para realização da obra e transformou a cúpula da Catedral de Florença em um local de investigação científica    e simbólica. Suas estruturas eram uma novidade para a época assim como a extraordinária dimensão  da cúpula que acabou atraindo cientistas interessados em  testar  novas teorias e tecnologias. Galileu pode jogar balas de canhão da Torre inclinada de Pisa para provar de maneira ocular que os corpos arremessados do alto descem com igual velocidade independente de peso. Gustave Eiffel estudou a aerodinâmica do alto de sua torre.  A altura e  estabilidade da cúpula permitiram ao astrônomo Toscanelli obter um conhecimento superior do movimento da órbita da terra ao redor do sol, o que permitiu calcular o exato momento do solstício de verão e do equinócio vernal. Esses cálculos serviram a um propósito eclesiástico também, algumas  datas religiosas, como a Páscoa, puderam ser reguladas.  A descoberta acabou por servir a fins profanos e científicos que ajudaram as grandes navegações a chegarem no novo mundo.
Em 1420 começou a tomar forma o projeto audacioso que precisou de um estudo acurado  das construções da antiga Grécia e Roma. Brunelleschi usou o modo construtivo de tijolos  inter travados sem nenhum tipo de apoio subindo  em círculos  e se fechando  assim como ele tinha estudado no Panteão Romano e  nas ruínas em Roma.   Brunelleschi estava convencido que através da física matemática e outras ciências relacionadas, isso seria possível.  Ele projetou  oito lados simbolizando os oito lados de uma flor dando assim   origem ao nome Santa Maria del Fiore e uma única cúpula significa a fé em um único Deus. A cúpula é vista de quase toda a cidade como queria Brunelleschi, era "para cobrir o céu da Toscana".
Quatorze anos depois a obra estava concluída faltando apenas a lanterna que fecha o topo.  Observamos que várias partes da Catedral mostram as diferentes fases do gosto durante o longo tempo passado durante a fundação da igreja e sua finalização. O estilo romanesco aparece na forma dos arcos exteriores e  no interior os seus imensos arcos, portas e janelas apresentam uma feição gótica. O domo é pura  arte da Renascença e a fachada  é em estilo gótico.  No lado norte da catedral, a Porta da Mandorla, datada do século XV, apresenta uma influência gótica tanto no desenho arquitetural quanto na decoração. Ainda no interior, na forma de uma cruz latina, apresenta-se a nave e os corredores laterais. Maciços pilares com capitéis compósitos suportam as imensas e curvas abóbadas góticas dando ao conjunto arquitetônico uma aparência monumental.
A Catedral de Florença é fruto da união da fé com a ciência, uma precisou da outra para a sua realização. Sua importância foi tamanha que levou  Michelangelo, que era um homem de profunda fé, passar para ver  a igreja antes de partir para mais um desafio e teria comentado: "Vou a Roma fazer a tua irmã. Será maior, não será mais bonita".
*Artista plástica e profª de História da Arte
Acessado em 20/08/2008 no sítio do SRZD. Todas as modificações posteriores são de responsabilidade do autor original da matéria.
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