Ensino Religioso
28/10/2008
O manto da Fé, o manto do Poder
Claudia Ferraz*Um manto vermelho foi colocado sobre Jesus pelos soldados romanos a caminho da crucificação. O manto assim como a coroa de espinhos fazia parte dos adereços que ridicularizavam Jesus como o "rei dos judeus". Qual era a importância do manto naquela sociedade? No mundo pré-cristão, os cidadãos romanos usavam a toga quando apareciam em público, em atos oficiais como assembléias ou para irem aos jogos e ao teatro. A toga era um manto feito de lã branca comprida colocado sobre a túnica sendo proibido para escravos e estrangeiros. Os proscritos e as pessoas de luto usavam uma toga de lã de cor cinza (toga sordida, pulla), ou negra. A sociedade romana usava diferentes tipos de mantos como o purpurea, o praetextae, o trabeatae e o pictae que identificavam a classe que o cidadão romano pertencia. O purpurea era usado somente pelos Césares e o praetexta era usado pelas crianças nobres até os dezesseis anos. A trabeata era uma toga branca, com uma larga faixa de cor púrpura em toda sua extremidade reservada aos reis e aos seus cavalheiros e a picta era usada pelos cônsules. A cor púrpura hoje identificada com o vermelho carmim, era muito admirada mas seu peso era pago com o equivalente em ouro e acabou se transformando ao longo dos séculos D.C. na cor de reis, imperadores e papas.
Também na cultura celta encontramos um manto de lã chamado de tartan, que significa quadriculado, comprido até os joelhos. Os clãs dominantes começaram a ser reconhecidos de acordo com o padrão xadrez de seus mantos e os sacerdotes o usavam em sinal de castidade, obediência, pobreza e humildade. Nos Deuses Celtas o manto era colocado como um meio mágico de transmutarem seus corpos a formas que desejassem assumir, como a de animais, para cumprir funções determinadas.
Com o inicio da era cristã, o manto passa a ser também a vestimenta que envolve as imagens das diferentes manifestações da Virgem Maria. Na imagem de Nossa Senhora da Misericórdia, um vasto manto azul celeste aberto abriga representantes de todos os grupos sociais. A criação da imagem da Virgem da Misericórdia remonta ao começo do século XV, quando, em conseqüência da peste, o terror da doença impeliu os cristãos para a necessidade de proteção sobrenatural, a imagem protegia da peste os fiéis de todas as condições sociais, do Papa e Imperador aos mais humildes, abrigados sob o seu manto. Esta representação da Virgem, sob a denominação da Virgem do Manto Protetor ou Virgem da Misericórdia, estava largamente difundida por toda a Europa, quando foi fundada a Misericórdia de Lisboa.
Também no século XV apareceu no ocidente o ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro com seu manto azul e dourado sobre uma túnica vermelha, de presumida origem grega. Maria vestida de vermelho era para indicar que ela pertencia à genealogia dos reis, da Casa de David. Durante séculos as meninas foram vestidas de azul por ser a cor do manto da Virgem Maria e ser associado a calma e feminilidade.
Foi somente no século XX que se inventou a moda rosa para meninas e azul para meninos, só não se sabe quem inventou.
No século XVI houve a aparição da Virgem de Guadalupe, no México, num manto azul turquesa que era a cor era sagrada para os índios nahua, era próprio dos nobres e príncipes, sinal de realeza, virgindade e a cor que as deusas vestiam. Os índios mexicanos viviam sob as estrelas e a virgem está rodeada de raios dourados simbolizando o Sol, a luz do mundo e da vida. No manto estão representadas as estrelas do céu do dia da aparição em12 de dezembro de 1531.
O Escapulário Azul tem sua origem com a aparição de Nossa Senhora Imaculada Conceição acontecida em 2 de fevereiro de 1617 para a Irmã Ursula Benincasa na cidade de Nápoles. O Escapulário Azul é dado por Nossa Senhora a Irmã Ursula e todos que o usarem estarão cobertos pelo seu manto Sagrado.
No ano de 1830, na descrição que a santa Catherine Labouré fez da aparição da Virgem da Medalha Milagrosa, o manto azul aparece sobre uma túnica branca. Alguns anos mais tarde na França, na imagem que Santa Bernadette descreveu Nossa Senhora de Lourdes tem um manto branco sobre uma túnica branca. No século XX, na imagem da Virgem de Fátima de Portugal descrita pelas três crianças, o manto branco aparece sobre uma túnica branca. A cor do manto mudou, mas ele continuou a simbolizar o manto do poder, da proteção e da pureza da Virgem.
Diz a lenda que a imagem de Nossa Senhora de Nazaré já vestia um manto, de cor azul, com gotas de orvalho como pérolas quando foi encontrada pelo caboclo Plácido. A partir de 1904, a imagem passou a usar uma coroa ofertada pela Princesa Isabel assim como o manto azul-marinho. No ano de 1953 recebeu um manto bordado a ouro e pedras preciosas durante o 6º Congresso Eucarístico Nacional, realizado em Belém. Tornou-se uma honra e graça confeccionarem o manto da imagem e todos os anos os fiéis disputam esse privilégio gastando uma soma considerável de dinheiro.
O "esquizofrênico-paranóico" Arthur Bispo do Rosário foi internado na Colônia Juliano Moreira, casa para "loucos" no Rio de Janeiro e durante anos coletou objetos criando uma impressionante quantidade de peças bordadas com linhas de roupas comuns. Bispo teceu sobre um cobertor barato o "manto da passagem" que o levaria ao céu ao encontro da Virgem Maria. Sua vida estava relatada no manto assim como faziam os egípcios nas paredes das pirâmides. O manto possuía o poder de elevá-lo espiritualmente
Esse "poder mágico" atribuído ao manto é o mesmo que vemos no "manto da invisibilidade" de Harry Potter, na capa da invulnerabilidade do super homem e em vários heróis, os que voam e os que não voam como Batman. No lado do "mal" do mundo contemporâneo, os vilões também usam manto. Em alguns vilões, como Darth Vader, um manto negro o distingue, percebemos logo que ele tem o "poder" assim como nos cavaleiros Jedi que carregam mantos brancos ou marrons simbolizando a pureza e a humildade do "bem". Seja em que cor a capa-manto se apresente, continua a significar algo de mágico e supranatural.