Disciplina - Ensino Religioso

Ensino Religioso

24/12/2008

O origem do presépio

Claudia Ferraz*
O nascimento de Jesus fecha o ano e nos prepara para o novo ano que chega.  A história nos conta que a escolha da data foi uma decisão política do governo romano recém cristianizado, pois em nenhum evangelho isso está muito claro. Na nova Roma havia uma necessidade de substituir as festas pagãs pelas festas da cristandade e isso acabou por transformar as comemorações ao Deus Mitra naquelas de Jesus, assim surgiu o Natal. Mitra nasceu de uma virgem assim como Jesus, o primeiro numa caverna e o segundo num celeiro.
O Deus Mitra era conhecido pelos povos pastores da antiguidade como o deus-touro ligado ao Sol e simbolizava a luta eterna contra o mal. Seu culto só começou a ser difundido no século I a.C. em Roma, quando o Deus passou a ser visto como protetor dos soldados. A tradição de comemorar o seu nascimento no dia 25 de Dezembro só entrou para o calendário civil romano no ano 274 d.C. quando o Imperador romano Aureliano declarou o dia feriado nacional, oficializando assim, o costume dos adeptos mitráicos de se reunirem na noite do dia 24 de dezembro para cearem, trocarem  oferendas e preces pela volta da luz e do calor do Sol.
Os romanos também tinham incorporado uma tradição egípcia de celebrar o solstício de Inverno com rituais ligados ao renascimento da vida.  Na tradição egípcia há um Deus chamado  Horus, fruto da união de Osíris, pai-sol e de Isis, mãe-lua, que forma a trindade que governava o universo egípcio.  A representação imagética de Horus era de um menino recém-nascido e no quarto dia após o solstício de inverno essa imagem era retirada do templo e exposta à adoração
Foi no ano 313 d.C. que o Imperador Constantino decretou o Édito de Milão, dando maior  liberdade de culto aos cristãos que substituíram a  festa pagã do Natalis Solis Invicti, chamado o "nascimento do Sol invencível" pelo natal cristão. . As festas saturnais eram em honra ao deus Saturno e eram celebradas entre 17 e 23 de Dezembro. Nos últimos dois dias trocavam-se presentes em honra de Saturno. Já em 25 de Dezembro acontecia a celebração do nascimento do sol invencível.  Constantino era adorador do deus Sol e quando teve sua visão da cruz antes da batalha de Mexenio, resolveu se converter  realizando a união do Deus Mitra Solar pagão com Jesus na cruz do Catolicismo.
A palavra "presépio" significa "um lugar onde se recolhe o gado, curral, estábulo" e teria sido criado pela mãe do Imperador Constantino, Santa Helena. Nas primeiras representações encontradas do final do século IV, havia um boi e um jumento que naquela época representavam os irmãos inimigos, Seth e Osíris da cosmologia egípcia.  Seth havia assassinado Osíris para vingar-se e coloca-los juntos era afirmar que em Cristo os opostos se reconciliam para escutar a boa nova. Assim, os três reis magos que vieram do Oriente, simbolizavam os rivais do cristianismo e também que estariam se curvando diante daquele que era a encarnação do verdadeiro Deus.
Se Santa Helena fez a primeira representação plástica, foi S. Francisco quem fez a primeira encenação teatral em 1223.  Ele levou para uma gruta um boi, um burro e feno de verdade completando a cena com as imagens do Menino Jesus, da Virgem Maria e de S. José.  São Francisco nos deixou um presépio mais humano e o povo de Assis pode vivenciar aquele episódio de um modo novo, diferente, que os levava a se sentirem também testemunhas do nascimento de Jesus. Somente a partir do século XVI é que começaram a aparecer presépios com pequenas figuras naturais.  As figuras plásticas pintadas se soltaram da parede e passam a serem representadas tridimensionalmente. A principio foi aceito nas casas ricas onde sua presença investia o ambiente de ternura e emoção para depois ser copiado pelos menos abastados.
Ao longo da era cristã, os vários episódios da vida de Jesus inspiraram os artistas: A Natividade por Ghirlandaio, Murillo e Rafael Sanzio, A Apresentação ao Templo por Giotto, Cappaccio, Ticiano, O Casamento, A Anunciação, A Visitação, A Adoração dos Pastores e dos Magos, A Fuga para o Egito. O tema era muito admirado também pelos mestres alemães do século XV: Stefan Lochner, Martin Schongauer e na pintura flamenga de Q. Metsys e Jan Van Eyck.
A linguagem de Jesus carregada de simbolismos foi um método para alcançar a consciência das mentes e levá-las ao Reino de união, paz e amor que ele pregava.  O presépio é o simbólico caminho do nascimento para a vida eterna, é o despertar humano para o conhecimento espiritual que Jesus pregou. Talvez devêssemos olhar os presépios contemporâneos com os mesmos olhos de São Francisco, com humanidade para com a humanidade.
*artista plástica e profª de História da Arte
Acessado em 24/12/2008 no sítio do SRZD. Todas as modificações posteriores são de responsabilidade do autor original da matéria.
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