Ensino Religioso
30/01/2009
São Sebastião e o sincretismo
Monica CostaQuando me pediram que falasse a respeito da sincretização de São Sebastião na religião dos orixás, me senti impelida a primeiramente ler sobre a vida dele, afinal os santos católicos "escolhidos" para o sincretismo o foram a partir de arquétipos que os aproximavam dos orixás africanos. Foi então que me surpreendi ao constatar que a única "característica" que une São Sebastião a Oxossi é o objeto com o qual ele fora martirizado - a flecha.
São Sebastião era um soldado romano cristão, que viveu no século III d.C., quando o cristianismo era ainda proibido. Enquanto o Imperador Romano não sabia da sua religião, o tinha como homem de confiança, mas quando tomou ciência, o condenou ao martírio pelas mãos dos arqueiros. Por outro lado temos que, na religião dos orixás, Oxossi é o orixá provedor. É o orixá da caça e da pesca que cultuamos para que não nos falte o alimento. É o orixá que nos concede o axé da fartura, sempre à medida que necessitamos, não entendendo aqui fartura como algo para além da nossa capacidade de consumir. E um dos instrumentos de caça de Oxossi é a flecha. Em tempos de preocupação com o meio ambiente, a melhor forma de defini-lo é como orixá do equilíbrio ecológico.
Portanto, não podemos indicar como paralelo a profissão de ambos, pois o paralelo militar entre os santos católicos e os orixás se dá entre São Jorge e Ogun; nem tampouco falar em paralelo de morte, posto que São Sebastião foi um ser humano datado historicamente que foi martirizado por duas, na primeira flechado, enquanto Oxossi é um orixá - essência divina - que até no mito em que morre, é ressuscitado. Só nos resta realmente a flecha, mas ainda assim com sentidos diversos: as que alvejaram São Sebastião eram confeccionadas para a guerra; enquanto as de Oxóssi são símbolos da caça.