Disciplina - Ensino Religioso

Ensino Religioso

10/02/2009

Várias Umbandas?

Robson Nogueira
Quando o negro africano aportou no Brasil trouxe na bagagem apenas sua cultura, mas ela não veio arrumada nos porões negreiros. A cultura religiosa africana é praticada por etnias e eles não tiveram essa chance de se agruparem. Destarte, suas práticas religiosas, em nosso solo escravagista, tiveram de ser redefinidas, entrando ai o processo do sincretismo, assim como, influências dos nossos costumes regionais.
Fica bem claro que a cultura africana religiosa a ser praticada aqui já não seria a original praticada por lá. Leve-se em conta também a dificuldade de encontrarem itens, como ervas, plantas e apetrechos específicos para o louvor às suas Divindades.
Com o passar do tempo, a influência cultural, social e religiosa, brasileira se faria sentir entre os escravos, havendo aproximações mais ou menos intensas com elas. Isso foi impondo novas regras e ritmos aos cultos originais africanos. Sem nos prendermos a ciclos ou eras historicamente definidas, veremos que houve ainda outras aproximações importantes, principalmente, com as fugas dos escravos, quando mantiveram um contato bem próximo com nossos índios, o que lhes permitiram conhecer novas práticas religiosas, algumas bastante semelhantes às suas próprias, as quais passaram a ser totalmente integradas ou apenas aceitas e praticadas, ainda que isoladamente.
Sabemos também que os conhecimentos religiosos africanos eram repassados oralmente ecom o desaparecimento, por morte ou fuga, dos mais antigos, a distribuição do conhecimento original ficou profundamente prejudicado, cabendo àqueles que ainda possuíam alguma parte dele, distribuírem-no e  também resolverem todos os problemas de seus grupos. Em função de tanta aproximação e influência cultural a miscigenação e a associação de culturas tornam-se inevitáveis.
Novas culturas então, mais ou menos aproximadas das originais, passam a existir. A libertação dos escravos não lhes dá uma verdadeira "liberdade", pois, sem moradia, e trabalho, são empurrados para as periferias e passam a fazer qualquer coisa para conseguir sobreviver. Muitos brancos, ainda que escondidos, utilizavam os conhecimentos espirituais dos negros para alcançarem suas necessidades, curas ou resultados positivos em negócios. Estava criada então a Macumba. Macumba é o nome de um instrumento musical, ou ainda, da madeira da qual construía-se o tal instrumento e como era utilizado em algumas sessões religiosas, foi tomado, ainda que pejorativa e negativamente, para definir toda e qualquer atitude religiosa negra.
Com o passar do tempo, em função de necessidades sociais, a Macumba foi redefinida, identificada (e porque não dizer, socializada), em 1908, por uma Entidade Espiritual chamada de  Caboclo das Sete Encruzilhadas, numa ação que para muitos Umbandistas refere-se à própria criação da Umbanda no Brasil. A partir dessa socialização (criação para muitos) abriu-se a porta para a "construção" de diversas outras concepções da religião, algumas delas, claras demonstrações de interesses pessoais ou grupais no que concerne dar à Umbanda, agora já identificada por este nome, mas ainda tratada pejorativamente de Macumba, visões inteligentes" ou "sócio-aceitáveis". Na verdade tantas denominações não mudam o objetivo final da religião de praticar a caridade e buscar a evolução dos seres espirituais, (as próprias Entidades), assim como, dos encarnados (médiuns praticantes, assistentes, curiosos e simpatizantes).
Infelizmente, a Umbanda sofre um processo de intolerância fora e dentro de suas fileiras. De fora, quando vemos irmãos de outras religiões utilizarem-se de mídias nacionais (rádio e televisão) para atacar e denegrir nossos ícones, assim como, nossas autoridades sacerdotais e de dentro, quando vemos irmãos Umbandistas acharem-se mais capazes, inteligentes ou próximos de Oxalá que os demais, apenas porque crêem ser suas práticas ou doutrinas de Umbanda, mais eficazes, puras ou sagradas. Quando nós próprios pudermos conviver com nossas próprias diferenças e diversidades, teremos dado um passo valioso na direção de alcançar o respeito que tanto desejamos dos praticantes das demais religiões.
Acessado em 10/02/2009 nos sítio do SRZD. Todas as modificações posteriores são de responsabilidade do autor original da matéria.
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