Ensino Religioso
02/02/2010
O Haiti e o Vudu
Por Dojival Vieira, editor de Afropress, de Madri
Max Beauvoir, a Autoridade Suprema dos adeptos do Vudu no Haiti, denuncia em entrevista ao jornal espanhol El País, que os mortos estão sendo tratados como lixo.
Em longa entrevista ao jornalista Francisco Peregil, publicada nesta sexta-feira (22/1/2010), pelo jornal El País, de Madri, Max Beauvoir, a Autoridade Suprema dos adeptos do Vudu, no Haiti, denuncia que “estão tratando os mortos como lixo”. Segundo Beauvoir, de 74 anos, que esta semana se reuniu com o presidente René Préval, a pedido deste, a questão dos enterros das vítimas do terremoto é muito grave.
“Estão tratando as pessoas como lixo, sem a dignidade e o respeito que merece qualquer vivo. Sei que a situação é complexa e eu não tenho a solução. Porém, estou certo de que se tivéssemos nos sentado para conversar, haveríamos encontrado alguma forma em meia hora. E ainda estamos a tempo, porque ainda faltam muitos mortos para enterrar”, afirma.
Beauvoir, que é chamado de Ati, palavra que quer dizer “uma grande árvore que se abre como um guarda chuva para proteger as menores”, é casado, e tem uma filha de 45 anos. Ele vive rodeado de árvores gigantescas que considera sagradas, a uma hora de Porto Príncipe, a capital haitiana. O repórter do El País o descreve na entrevista, vestindo uma camisa guayabera branca, e acrescenta que é fluente em crioulo, francês, inglês e espanhol. Sua casa tem forma circular e é cercada por vários templos e jardins, nos quais há uma espécie de museu com esculturas de Vudu. No Haiti se costuma dizer que 80% da população é cristã, 20% protestante e 100% professa o Vudu.
Cerimônia aos mortos
Os adeptos do Vudu, segundo Beauvoir, celebram a cerimônia dos enterros durante nove dias. “Aí reunimos a família, os amigos e inimigos do morto. Durante esse tempo comemos e convivemos juntos. Quem tenha alguma coisa que dizer sobre o morto, diz, seja bem ou mal. Depois enterramos o corpo, mas a alma vai para debaixo do mar, um ano e um dia e ou sete anos e um dia, depende. Durante esse tempo, se purifica. É importante que saibam que nós cremos na reencarnação e que a pessoa vive oito vezes como mulher e oito vezes como homem. Isso é assim porque o objetivo da vida é ganhar conhecimento. Depois desse processo, todo mundo, sem exceção, se integra em Deus e começa uma existência em que cuida de todas as coisas vivas do Universo”, explica ao repórter.
A ideia que se faz do Vudu como crença, cujos bruxos (ele renega essa denominação) ou sacerdotes podem infligir danos a outras pessoas, valendo-se de bonecos em que são postos alfinetes, ele garante, é totalmente falsa. “Não vi nem um só boneco desses em todo o Haiti. Em qualquer grupo social há gente boa e gente má, mas no Vudu não se promove que se faça dano a ninguém. Há uma vertente religiosa do Vudu e outra vertente filosófica. Temos normas muito bem definidas sobre como viver, como sentar-se, comer, caminhar. É isso o que permite a um haitiano reconhecer a outro em qualquer parte do mundo, apenas vendo-o simplesmente andando ou longe”, acrescenta.
Segundo Beauvoir a má imagem do Vudu deve-se ao cristianismo e às potências estrangeiras como França, Estados Unidos e Espanha. “O Vudu fez o Haiti como país. Nossa independência foi alcançada graças a uma cerimônia celebrada em 14 de agosto de 1791, conhecida como Bwa Kayiman. Haiti é Vudu”, afirma.
Perseguição
A mais alta autoridade do Vudu diz que poucas religiões tem sofrido uma operação de desprestígio e perseguição tão violenta como o Vudu, que nasceu na África e foi trazido para o Caribe pelos primeiros negros escravizados que chegaram à Ilha.
Para ele, “os espanhóis, os franceses e os Estados Unidos nunca nos perdoaram nossa independência e fizeram todo o possível para fazer nossa vida mais difícil.” “E o pior foi quando os cristãos chegaram ao poder em 1816. Eles ainda estão lá, com a ajuda econômica dos Estados Unidos e França”, acrescenta.
Desde 2003, o Vudu passou a ser reconhecido pelo Estado, por ato em que o presidente Jean Aristide, um padre, autorizou que os seus sacerdotes passassem a realizar casamentos. Beauvoir diz que agradeceu ao presidente René Preval tê-lo chamado, mas no caso dos enterros, diz que tem que levantar a voz para defender sua gente. “Eu agradeço que o presidente tenha me consultado, mas ele segue favorecendo a Igreja de Roma, aos europeus e americanos que consideram suas religiões europeias e centro-asiáticas superiores à africana”, finalizou.
Max Beauvoir, a Autoridade Suprema dos adeptos do Vudu no Haiti, denuncia em entrevista ao jornal espanhol El País, que os mortos estão sendo tratados como lixo.
Em longa entrevista ao jornalista Francisco Peregil, publicada nesta sexta-feira (22/1/2010), pelo jornal El País, de Madri, Max Beauvoir, a Autoridade Suprema dos adeptos do Vudu, no Haiti, denuncia que “estão tratando os mortos como lixo”. Segundo Beauvoir, de 74 anos, que esta semana se reuniu com o presidente René Préval, a pedido deste, a questão dos enterros das vítimas do terremoto é muito grave.
“Estão tratando as pessoas como lixo, sem a dignidade e o respeito que merece qualquer vivo. Sei que a situação é complexa e eu não tenho a solução. Porém, estou certo de que se tivéssemos nos sentado para conversar, haveríamos encontrado alguma forma em meia hora. E ainda estamos a tempo, porque ainda faltam muitos mortos para enterrar”, afirma.
Beauvoir, que é chamado de Ati, palavra que quer dizer “uma grande árvore que se abre como um guarda chuva para proteger as menores”, é casado, e tem uma filha de 45 anos. Ele vive rodeado de árvores gigantescas que considera sagradas, a uma hora de Porto Príncipe, a capital haitiana. O repórter do El País o descreve na entrevista, vestindo uma camisa guayabera branca, e acrescenta que é fluente em crioulo, francês, inglês e espanhol. Sua casa tem forma circular e é cercada por vários templos e jardins, nos quais há uma espécie de museu com esculturas de Vudu. No Haiti se costuma dizer que 80% da população é cristã, 20% protestante e 100% professa o Vudu.
Cerimônia aos mortos
Os adeptos do Vudu, segundo Beauvoir, celebram a cerimônia dos enterros durante nove dias. “Aí reunimos a família, os amigos e inimigos do morto. Durante esse tempo comemos e convivemos juntos. Quem tenha alguma coisa que dizer sobre o morto, diz, seja bem ou mal. Depois enterramos o corpo, mas a alma vai para debaixo do mar, um ano e um dia e ou sete anos e um dia, depende. Durante esse tempo, se purifica. É importante que saibam que nós cremos na reencarnação e que a pessoa vive oito vezes como mulher e oito vezes como homem. Isso é assim porque o objetivo da vida é ganhar conhecimento. Depois desse processo, todo mundo, sem exceção, se integra em Deus e começa uma existência em que cuida de todas as coisas vivas do Universo”, explica ao repórter.
A ideia que se faz do Vudu como crença, cujos bruxos (ele renega essa denominação) ou sacerdotes podem infligir danos a outras pessoas, valendo-se de bonecos em que são postos alfinetes, ele garante, é totalmente falsa. “Não vi nem um só boneco desses em todo o Haiti. Em qualquer grupo social há gente boa e gente má, mas no Vudu não se promove que se faça dano a ninguém. Há uma vertente religiosa do Vudu e outra vertente filosófica. Temos normas muito bem definidas sobre como viver, como sentar-se, comer, caminhar. É isso o que permite a um haitiano reconhecer a outro em qualquer parte do mundo, apenas vendo-o simplesmente andando ou longe”, acrescenta.
Segundo Beauvoir a má imagem do Vudu deve-se ao cristianismo e às potências estrangeiras como França, Estados Unidos e Espanha. “O Vudu fez o Haiti como país. Nossa independência foi alcançada graças a uma cerimônia celebrada em 14 de agosto de 1791, conhecida como Bwa Kayiman. Haiti é Vudu”, afirma.
Perseguição
A mais alta autoridade do Vudu diz que poucas religiões tem sofrido uma operação de desprestígio e perseguição tão violenta como o Vudu, que nasceu na África e foi trazido para o Caribe pelos primeiros negros escravizados que chegaram à Ilha.
Para ele, “os espanhóis, os franceses e os Estados Unidos nunca nos perdoaram nossa independência e fizeram todo o possível para fazer nossa vida mais difícil.” “E o pior foi quando os cristãos chegaram ao poder em 1816. Eles ainda estão lá, com a ajuda econômica dos Estados Unidos e França”, acrescenta.
Desde 2003, o Vudu passou a ser reconhecido pelo Estado, por ato em que o presidente Jean Aristide, um padre, autorizou que os seus sacerdotes passassem a realizar casamentos. Beauvoir diz que agradeceu ao presidente René Preval tê-lo chamado, mas no caso dos enterros, diz que tem que levantar a voz para defender sua gente. “Eu agradeço que o presidente tenha me consultado, mas ele segue favorecendo a Igreja de Roma, aos europeus e americanos que consideram suas religiões europeias e centro-asiáticas superiores à africana”, finalizou.