Ensino Religioso
21/02/2011
Hinduísmo: ritos e práticas religiosas
Flavio Poli e Roop Lal SandhuO hinduísmo suscitou a construção de muitos templos de todos os tamanhos e estilos arquitetônicos.
Os lugares sagrados
Existem lugares de culto nos pequenos santuários de aldeia e nas grandes cidades templárias, nas quais se entra através de portões monumentais, acima dos quais há torres abarrotadas de esculturas. No interior do muro do templo, muitas vezes no centro, encontra-se o sancta sanctorum, dito garbhagriha (casa do embrião), onde há a estátua do deus ou o seu símbolo. Há também numerosas construções, abrigos, claustros, pórticos e piscinas. A localização e a edificação dos templos, tanto hoje como no passado, obedece a normas arquitetônicas precisas, inspirando-se em concepções míticas.
No interior dos templos, acontece a veneração, dita puja, das imagens divinas, às quais os fiéis levam oferendas: geralmente flores, doces, ervas, frutas e, em alguns lugares, também animais para o sacrifício.
A escultura das estátuas também segue os cânones fixados pelos tratados (shastra). A estátua é colocada no templo e consagrada com ritos especiais, lavada, vestida, enfeitada e perfumada. Todas as manhãs, a divindade é acordada pelos sacerdotes adeptos que lhe oferecem comida, bebida e manteiga derretida, cobrem-na de flores, agitando incenso e luzes diante da imagem.
Muitas vezes, a puja se transforma em cerimônias mais solenes e complexas. Uma parte da comida ofertada ao deus é, depois, distribuída aos fiéis que participaram do rito.
Em determinadas ocasiões, a imagem é levada em procissão sobre um carro monumental até um espelho de água onde é mergulhada.
A peregrinação
São numerosos os lugares considerados sagrados por causa de sua localização particular ou porque foram palco de acontecimentos mitológicos: rios, espelhos de água, santuários, montanhas e até árvores ou pedras. O Ganges, a "mãe Ganga" (todos os rios, na Índia, são do gênero feminino) é o mais sagrado dos rios, assim como Varanasi (Benares), localizada na metade do curso desse rio, é a mais sagrada das cidades. Os hindus vão em peregrinação a esses lugares, percorrendo, muitas vezes, centenas de quilômetros e enfrentando problemas e perigos de todos os tipos. Muitos se dirigem a Benares para ali esperar a morte: assim serão cremados nas escadarias (ghat) que conduzem ao rio e dali subirão ao céu. Os outros peregrinos banham-se nas águas do Ganges para serem purificados. Os ascetas, místicos que renunciaram aos bens terrenos, ao morrer, não são cremados porque já estavam mortos para o mundo. Seus corpos, cobertos de flores oferecidas pelos discípulos e atados a um peso, são deixados escorregar no rio. Se, contudo, não houver um rio nas vizinhanças, esses são sepultados com uma cerimônia especial.
Concebe-se toda peregrinação como uma subida; no fim, no lugar sagrado, há a purificação, a salvação, a união com Deus.
Ritos domésticos e sacramentos
Se os grandes sacrifícios da idade védica não são mais celebrados, os ritos domésticos prescritos conservaram-se especialmente para os chefes de família da casta brâmane, que devem observar também muitas outras prescrições mínimas a respeito das roupas, da alimentação, da profissão, etc.
Dois são os ritos, (samdhya) que se cumprem no momento da conjunção entre luz e trevas (os dois crepúsculos). É prevista uma série de operações e de invocações, com repetidas abluções, imposição das mãos sobre várias partes do corpo, ofertas, veneração ao sol, exercícios respiratórios, recitação de fórmulas.
Outros cinco ritos (mahayajna: grandes sacrifícios) são diários, mas celebrados, quase sempre, de maneira reduzida. Esses consistem na oferta a todos os deuses e às almas dos defuntos, na recitação de estrofes dos Vedas e na hospitalidade aos andarilhos, especialmente os ascetas.
A oferta de alimento a cinco dos protetores é feita todos os dias. Esses são representados por figurinhas ou cinco pedras coloridas: preta para Vishnu, branca para Shiva, vermelha para Ganesh, o filho de Shiva com a cabeça de elefante, o cristal para Surya, a pirita para a deusa Parvate.
Os samskara. Há também doze "sacramentos" (samskara) principais, ainda que esse número não deva ser considerado rigorosamente fixo. Um desses é destinado à consagração da concepção, quatro dias depois do casamento. Três meses mais tarde, segue-se um procedimento caso se queira que o filho seja do sexo masculino. Traça-se, a seguir, se for a primeira concepção, uma linha entre os cabelos da mulher grávida. Depois, há o rito que ocorre no momento do nascimento, quando se faz o recém-nascido engolir uma bolinha de mel e manteiga (ghi). Dez dias depois, impõe-se o nome (ou melhor, os nomes, porque são muitos, mantidos em segredo ou quase, além do oficial), seguindo rigorosas prescrições. Aos quatro meses, há o rito da "primeira saída" e aos sete, a solenidade do primeiro alimento sólido deglutido. No decorrer da infância, há ainda "o corte dos cabelos" (aos três anos), a "tonsura" (aos quatro anos) e a perfuração da orelha. Chega-se assim ao importante rito da "iniciação" (upanayana), com a imposição do cordão sagrado.
A iniciação deveria ocorrer aos oito anos para os brâmanes, aos onze para os kshatriya e aos doze para os vaishya, selando a admissão do rapaz na própria casta.
O matrimônio é composto de um conjunto de cerimônias muito complexas e articuladas que mudam segundo as tradições locais e os grupos de casta. Naturalmente, tudo obedece a precisas prescrições religiosas e astrológicas.
Além do que já foi dito sobre os procedimentos com os mortos, há um rito suplementar na cerimônia fúnebre que é o shraddha (nascido pela fé), destinado a transformar o defunto em um "espírito protetor" benévolo.
Para tanto, oferem-se, por exemplo, bolinhos de arroz e água aos antepassados diretos. O shraddha acontece entre dez a trinta e um dias após a morte, portanto, em datas regulares e por ocasião de algumas festas.