Disciplina - Ensino Religioso

Ensino Religioso

07/07/2008

Criança quer saber do concreto

Cristiane Rogerio e Eliza Muto
Beto Tchernobilsky
Para especialistas, a busca pela fé ou por uma explicação é um reflexo da crise moral de nossa época, marcada pela desilusão com a ciência e pela descrença na política.
De acordo com o psicólogo Yves de La Taille, as pessoas buscam um sentido para a vida, sendo que religiões dão esse caminho de alguma forma e suprem a necessidade de acreditar em algo.
Segundo La Taille, no entanto, a religião como crença na existência de um ente supremo está um tanto ausente na vida dos brasileiros. E muito do que se vê hoje em dia não passa de misticismo. É o caso do jogador de futebol que faz o sinal da cruz quando marca um gol, diz La Taille. Aí, ocorrem as grandes confusões. "Não se pode atribuir o gol a Deus", destaca ele, uma vez que a religião ocupa um lugar nobre e não deveria ser gasta em detalhes. Uma religião deveria envolver a vida inteira de uma pessoa, não apenas pedaços, momentos dela.
É aí que entra um ponto que atinge – e muitas vezes confunde – todos nós: a relação de religião com valores morais. Religião estaria mais ligada a um ideal, a uma escolha, um sentido para a vida. Uma decisão pessoal mais do que um instrumento para ensinar "o certo e o errado". A busca por ela, muitas vezes, é uma forma de se sentir conectado ao mundo, sentir-se parte de uma coisa só. Quem somos?
O desafio é entender que a busca do ser humano por um significado para a vida não está necessariamente associada às religiões. "É perceber uma dimensão maior e se desligar um pouco da concepção ocidental de fé, muito demarcada pela idéia do judaísmo e do cristianismo", diz a antropóloga Adriana Dias. E é aí que entra a espiritualidade.
Um tanto subjetiva, a espiritualidade diz respeito às coisas que ultrapassam a realidade imediata – o aqui e o agora. Ela está presente, por exemplo, entre os povos indígenas, que não têm uma religião, mas possuem uma relação de respeito com a natureza e com a vida. E como esse conceito tão abstrato pode estar presente na vida da família? Quando pai e filho percebem que foram reunidos por um motivo simbólico, exemplifica Adriana. Acontece no dia-a-dia.
Criança quer saber do concreto
Se pensarmos que religião e espiritualidade são uma decisão pessoal, o que fazer em relação às práticas, tais como ensinar ou não uma prece? E como dar as respostas concretas que as crianças sempre pedem?
O que talvez muitos pais não tenham notado é que, quando estão indecisos, mostram que não há apenas um caminho. E isso não é ruim. Em vez de passarem uma idéia fechada, focando em uma única crença, mostram à criança a diversidade e oferecem a ela a possibilidade de escolher quando se tornar adulta. Mesmo porque, como diz o psicólogo Geraldo José de Paiva, não há como pensar que a educação religiosa é uma coisa totalmente imposta. "Cada criança é diferente da outra e vai encontrar experiências, problemas e desafios diferentes. Cada qual vai construir pessoalmente a sua maneira de ser religioso ou não-religioso", acredita ele.
No livro A Viagem de Théo (Editora Cia. das Letras), a filósofa e escritora francesa Catherine Clément conseguiu mostrar em romance o dia-a-dia de famílias que optam por uma educação sem focar em nenhuma crença. No enredo, o menino faz uma viagem pelo mundo e pela história das religiões. "Se uma criança aprende que existem muitas religiões no mundo, ela não será persuadida a acreditar que há somente uma única religião verdadeira e as outras estão erradas", diz.
Acessado em 07/07/2008 no sítio da Revista Época. Todas as modificações posteriores são de responsabilidade do autor original da matéria.
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