Disciplina - Ensino Religioso

Ensino Religioso

16/07/2008

A passagem da Cruz

Evaristo Eduardo de Miranda
Muitos fazem o sinal da cruz ao entrar num cemitério, ao passar diante de uma igreja ou ao chegar num túmulo. No dia de Finados, o símbolo da cruz predomina nos cemitérios, sobre as sepulturas, nas capelas, nos cruzeiros e nos gestos das pessoas. A cruz seria um símbolo da morte? Não! A cruz representa a porta da vida eterna. Por isso, o sinal da cruz abre e encerra os ritos do funeral. Por isso, a cruz é colocada nas salas dos funerais; é traçada com água benta na bênção do corpo dos falecidos e das sepulturas e vai desenhada sobre os caixões. Para os cristãos, a cruz de Cristo é símbolo da Vida.
Na cruz de Jesus Cristo foram derrubados três muros que nos separavam de Deus: o da natureza, o do pecado e o da morte. O muro da natureza separava de um lado o divino, e do outro o humano; o Criador e as criaturas. Para muitas religiões, ainda é assim: cada um em sua realidade e dimensão. Mas o Filho de Deus se fez homem e habitou entre nós (Jo 1,1-12). No mistério da Encarnação do Verbo Divino derrubou-se o muro das naturezas distintas. Deus se fez homem. Isso significa que nós também podemos divinizar-nos. Isso começa no batismo, continua durante toda a existência e encontra sua plenitude no face-a-face com Deus! Pela morte, passamos para a casa do Pai.
Para os cristãos, o segundo muro que nos separava de Deus era o do pecado. Ele foi abatido na cruz, numa sexta-feira de Páscoa. Jesus morreu na cruz para nos libertar do pecado. O alcance desse amor divino ultrapassa o entendimento humano. Somos livres do pecado por termos sido libertados do medo e, principalmente, do medo de Deus e da morte. Deus não nos ama porque somos bons, mas para que nos tornemos bons, dizia Santa Teresinha. Se Deus me ama assim, eu também posso amar assim! Perdoando e fazendo o bem. Na hora da morte, a pessoa pode perdoar tudo e todos. Ninguém é perfeito diante de Deus. Todos precisarão de sua misericórdia infinita, demonstrada na cruz.
O terceiro muro abatido na cruz foi o da morte, no domingo da Ressurreição. Deus tomou carne mortal para lutar e vencer a morte (2 Co 5,14). A morte atacou Jesus, devorou-o como fazia com todos os mortais, mas não pôde absorvê-lo porque nele havia Deus. E é assim que ela foi morta. A Igreja proclama na liturgia pascal: morrendo, ele destruiu a morte. Ele provou a morte em benefício de todos (Hb 2,9). No dia de Finados, festejamos a vida, a esperança da ressurreição e não a morte. A cruz é o grande sinal da vida e da proteção divina.
Os restos desses muros podem dificultar a união com Deus. Mas nessa união divina já estão as pessoas falecidas. Muitos tentam reconstruir esses muros, fazendo da morte uma terrível ameaça e de Deus um juiz implacável e vingativo. Eles escondem-se nas ruínas do passado e em novos muros divisórios baseados no poder, riqueza ou saber. Não deve haver temor. O dia de Finados nos recorda: na cruz de Cristo, a morte mudou de nome e natureza. Agora, ela é uma passagem para a casa do Pai, para os céus. Não se trata de um lugar, mas de uma situação. Como indicou o Papa Bento XVI, estaremos no amor de Deus, penetrando em seu mistério e vivendo a totalidade de nossa condição de filhos amados de Deus.
Acessado em 16/07/2008 no sítio do Instituto Ciência e Fé. Todas as modificações posteriores são de responsabilidade do autor original da matéria.
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