Disciplina - Ensino Religioso

Ensino Religioso

28/07/2008

O sagrado esquecido e abandonado

Tirando centros de tradições, grupos folclóricos e algumas entidades e pessoas que se preocupam em manter viva, ou ressuscitar pessoas e eventos há muito esquecidos, parece que tudo cai no esquecimento. No fim dos tempos vai tudo pra uma vala comum no passado. Uma espécie de limbo histórico.
Um lugar onde pessoas e eventos esquecidos perambulam como pecadores que precisam ser redimidos com a recuperação de história de luta, coragem e desprendimentos. Nossa memória é curta, por isso precisamos de arqueólogos que cavam em busca de cacos que possam ser juntados e como um avô sentado na cadeira, não deixar a história morrer. Mas não são apenas pessoas e feitos heróicos ou anônimos, que perdem o valor e acabam esquecidos.
Por mais incrédulo que possa parecer até o Sagrado pode ser esquecido e abandonado. Pelo menos é essa a impressão que dá àqueles que passam e param para rezar na pequena Capela no Braço da Ilha. De longe a construção chama a atenção pela cruz quase imperceptível, pregada acima da porta de entrada que só não foi ao chão ainda porque alguém empurrou os bancos contra.
Maltratada por fora e esquecida por dentro, a Capela está lá quase escondida envolta por chimarritas. Toda feita de madeira com detalhes sobre as janelas, é o marco de colonização de muitos povos, que construíram suas cidades perto da Igreja. Uma forma de pedir a permanência do Divino sempre por perto. Hoje a pequena capela é o sinônimo de muitas comunidades. Maltratadas e abandonadas.
Vidros quebrados, o retrato do Cristo já saiu da Moldura. Parece que não aquenta tamanho abandono e quer ir embora também. O altar empoeirado, impregnado de sujeira e fezes de aves, não oferece para quem vê um espaço destinado à lembrança de um sacrifício de vida e santidade.
Um sacrifício em oferecimento da redenção dos homens. Atrás do altar está o Sacrário, a morada do Cristo Eucarístico trancado a chave. Dentro só Deus sabe o que tem. Acima do Sacrário uma imagem da Santa Negra, padroeira de um povo que exprime nesta escolha a aceitação por todas as raças e cores. O olhar da imagem transmite um sentimento de tristeza, de solidão.
Uma solidão que não é maior, porque o abandono, e a omissão com o espaço sagrado, é amenizado pelos corações de Maria e do Cristo. Um de cada lado, oferecendo a padroeira Aparecida alento e companhia diante de tamanho abandono. Não é apenas a história, que vai aos pouco tomando seu lugar na vala comum do esquecimento. Aqui o altar sagrada da expiação dos pecados e da promessa do banquete eterno, se perdeu em algum lugar do passado.
Acessado em 28/07/2008 no sítio O Barriga Verde. Todas as modificações posteriores são de responsabilidade do autor original da matéria.
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